A União Europeia (UE), mais concretamente a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), publicaram um relatório sobre a resistência antimicrobiana em bactérias zoonóticas em 2022 e 2023.
“Uma abordagem abrangente – ‘One Health’ – é essencial para combater a resistência antimicrobiana. Sistemas de vigilância robustos, uso prudente de antimicrobianos e colaboração entre setores são fundamentais para mitigar o risco representado por bactérias resistentes a antibióticos que podem se espalhar entre animais e humanos”, afirmaram Carlos das Neves e Piotr Kramarz, cientista-chefe da EFSA e cientista-chefe do ECDC, respetivamente.
A elevada resistência à ciprofloxacina, um medicamento antibiótico importante para o tratamento de infeções por Salmonella e Campylobacter, foi considerada uma das preocupações crescentes para as autoridades de saúde europeias. “Descobrimos que a resistência à ciprofloxacina está a aumentar em humanos em mais da metade dos países europeus que apresentaram os seus dados”, referiram os responsáveis.
E continuam: “foram observadas proporções elevadas a extremamente altas de resistência à ciprofloxacina em Campylobacter de animais de produção, assim como em Salmonella e E. coli em algumas aves de capoeira. Estas tendências são particularmente preocupantes, pois a lista de bactérias nocivas de 2024 da Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a Salmonella não tifóide resistente a fluoroquinolonas como uma elevada prioridade”.
Por outro lado, a resistência a outros antibióticos de importância crítica utilizados na medicina humana continua a ser rara para a Salmonella e a Campylobacter, tanto em seres humanos como em animais de produção na UE.
Embora a resistência aos antibióticos do grupo dos carbapenemas permaneça rara, a deteção ocasional de E. coli resistente a esta classe de antibióticos em alimentos e animais requer vigilância constante e mais investigações epidemiológicas, sublinham as duas entidades.
Quanto a tendências positivas, o relatório revelou progressos significativos na redução dos níveis de resistência em vários países que comunicaram informações. “Quase metade dos países europeus que apresentaram dados indicaram uma diminuição na resistência de Campylobacter a antibióticos macrólidos em C. jejuni e C. coli em humanos. Além disso, a resistência dos isolados de Salmonella Typhimurium de humanos às penicilinas e tetraciclinas diminuiu com o tempo”, explicam ambos os responsáveis da EFSA e do ECDC.
O relatório também mostrou que, nos últimos 10 anos, foram registados “progressos encorajadores” na redução da resistência antimicrobiana em animais de produção em vários Estados-Membros da UE.
Segundo Carlos das Neves e Piotr Kramarz, “apesar de algumas melhorias, a resistência antimicrobiana continua a ser uma grande ameaça à saúde pública que requer ação coordenada com a abordagem ‘One Health’. As principais medidas incluem a promoção do uso responsável de antibióticos, a melhoria da prevenção e controle de infeções, o investimento na pesquisa de novos tratamentos e a implementação de políticas nacionais robustas para combater efetivamente a resistência”.