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“Portugal tem um nível de cuidados médico-veterinários muito elevado, comparável ao que de melhor se faz na Europa”

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O Porto vai ser palco, de 21 a 24 de maio, do Congresso Europeu de Oncologia Veterinária, organizado pela Sociedade Europeia de Oncologia Veterinária (ESVONC), com o apoio da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC).

O evento, que este ano tem como tema central a quimioterapia, contará com a participação de especialistas internacionais e abordará tendências emergentes, como a Inteligência Artificial (IA), as biópsias líquidas e o futuro das vacinas no tratamento do cancro animal.

 

A VETERINÁRIA ATUAL conversou com Felisbina Queiroga, médica veterinária e presidente do Grupo de Interesse Especial em Oncologia Veterinária da APMVEAC (GIEONC), que nos explicou a génese do evento, os objetivos e qual o papel da Associação e do GIEONC na organização do Congresso Europeu de Oncologia Veterinária.

A coordenadora destacou ainda a importância crescente da especialização em oncologia veterinária em Portugal e que o número de diagnósticos oncológicos tem aumentado, não necessariamente por maior incidência de tumores, mas devido à maior longevidade dos animais e a um acesso mais alargado a tecnologias avançadas de diagnóstico.

 

A responsável alertou para a necessidade de maior investimento em formação especializada e em políticas que promovam a equidade no acesso aos cuidados, como o reforço da oferta de seguros e a redução do IVA nos serviços veterinários.

Para Feslisbina, o futuro da oncologia veterinária depende do equilíbrio entre inovação tecnológica, valorização profissional e medidas de apoio que permitam que todos os tutores possam oferecer tratamentos de qualidade aos seus animais.

Felisbina Queiroga

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Qual o motivo que levou à realização do Congresso Europeu de Oncologia Veterinária, quais os temas em destaque e o que pretendem alcançar com esta iniciativa? 

Este ano, a Sociedade Europeia de Oncologia Veterinária (ESVONC) escolheu o Porto para realizar o seu Congresso Europeu. Como é habitual, quando se realiza este tipo de eventos no nosso País, a Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC) oferece a sua colaboração à ESVONC, por isso, nos associámos a esta excelente iniciativa.

 

“O GIEONC foi formado há alguns anos, tendo sido renovado e reativado no último ano. Estamos num momento de recrutamento de membros. Queremos que este grupo reflita o elevado interesse que os médicos veterinários têm em oncologia veterinária no nosso País.”

De acordo com o programa do congresso, que está acessível na internet, o foco deste ano será a Quimioterapia, aspeto de muita relevância em Oncologia Clínica Veterinária.

A APMVEAC, ao associar-se a esta iniciativa, decidiu organizar um simpósio pré-congresso, que ficou a cargo do seu Grupo de Interesse Especial em Oncologia (GIEONC-APMVEAC), que decorrerá na quarta-feira, dia 21 de maio.

O congresso tem início no dia 21 de maio da parte da tarde e decorre de quarta-feira à tarde até sábado ao fim do dia (21 a 24 de maio).

O programa do pré-congresso é muito apelativo e conta com palestrantes de renome, como Jessica Lawrence, da Universidade de Davis, nos EUA, que vai falar de Inteligência Artificial na Oncologia Veterinária; Phil Bergman, também dos EUA, responsável pela criação da vacina do Melanoma, o qual falará do futuro das vacinas no cancro; e com Rosário Pinto-Leite, geneticista portuguesa que vai abordar o tema das biopsias líquidas. Por fim, estarei eu a fazer uma palestra onde procurarei dar destaque ao papel de associações nacionais, como a APMVEAC e outras internacionais, assim como a própria ESVONC no desenvolvimento da Oncologia Veterinária no nosso País e no mundo.

Destaco ainda que, desde o início da nossa colaboração (APMVEAC-ESVONC), a iniciativa do pré-congresso teve o apoio imediato e incondicional, quer do presidente da APMVEAC, Emir Chaher, como do presidente da ESVONC, Jérôme Benoit.

“A APMVEAC, ao associar-se a esta iniciativa, decidiu organizar um simpósio pré-congresso, que ficou a cargo do seu Grupo de Interesse Especial em Oncologia (GIEONC-APMVEAC), que decorrerá na quarta-feira, dia 21 de maio.”

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O reconhecimento de Portugal no que toca a cuidados veterinários tem influenciado a que mais eventos internacionais sejam realizados em território nacional?

Portugal tem um nível de cuidados médico-veterinários muito elevado, ao nível do que de melhor se faz na Europa. Só não conseguimos fazer quando não temos os equipamentos necessários ou quando os nossos tutores não podem suportar financeiramente os cuidados a ministrar.

O nosso ensino universitário da Medicina Veterinária é de elevada qualidade, reconhecido pela A3ES, bem como pela EAEVE (com várias universidades creditadas no País, incluindo a UTAD, onde leciono).

Naturalmente que um nível de conhecimento elevado nos profissionais médico-veterinários, leva à necessidade de uma formação contínua de elevado nível, isto está diretamente relacionado com o interesse dos profissionais médico-veterinários em participar em eventos técnico-científicos a nível europeu e mundial.

Como exemplo, recordo o Congresso Mundial da WSAVA/FECAVA/FIAVAC, organizado pela APMVEAC em 2023, sendo aquele que registou o maior número de participantes, até aquela data, na história dos Congresso da WSAVA.

Portugal tem sido palco de inúmeros congressos europeus e, cada vez mais, iremos assistir a mais eventos a decorrerem em território nacional, em parceria com a APMVEAC.

“O cuidado dos nossos tutores com os seus animais vê-se refletido no elevado número de animais geriátricos e no avanço de uma área também muito importante e emergente: a medicina de cuidados paliativos.”

Qual o ponto de situação atual sobre o Grupo de Interesse Especial em Oncologia Veterinária da APMVEAC?

O GIEONC foi formado há alguns anos, tendo sido renovado e reativado no último ano. Estamos num momento de recrutamento de membros. Queremos que este grupo reflita o elevado interesse que os médicos veterinários têm em oncologia veterinária no nosso País.

O grupo é constituído por médicos-veterinários, membros da APMVEAC, pois ser membro da Associação é condição necessária para integrar o Grupo. No GIEONC, coordenado por mim atualmente, temos colegas que têm muitíssima experiência em oncologia e colegas que querem aprender mais sobre este tema. Relembro que este grupo é aberto a todos.

Quais as causas que defendem e o que pretendem alcançar num futuro próximo?

O principal objetivo do grupo é facilitar a comunicação entre todos os profissionais médico-veterinários apaixonados pela oncologia veterinária. Dar formação, baseada na evidência científica, e de elevada qualidade, direcionada para as necessidades dos médicos-veterinários de animais de companhia no nosso País, permitindo aumentar o nível de confiança com que tratam os seus animais com problemas oncológicos.

Será também nosso objetivo, difundir informação útil sobre novos tratamentos ou métodos de diagnostico disponíveis, bem como guidelines e outros artigos de opinião de elevado interesse, mas queremos fazer muito mais ao longo dos próximos anos.

“Outro aspeto que tem sido uma luta ativa da APMVEAC e da OMV, é uma tentativa junto do governo, desde há vários anos, da redução do valor do IVA dos cuidados médico-veterinários, que se situa nuns escandalosos 23%, para 6%, um valor mais racional e próximo ao que se pratica com cuidados de saúde humana, os quais estão isentos de IVA.”

Como está a evoluir o setor da oncologia veterinária em Portugal? E a nível europeu?

Estamos a caminhar, em Portugal e na Europa, para cuidados veterinários altamente especializados. Não apenas em oncologia de animais de companhia, mas em todas as áreas da medicina veterinária de animais de companhia.

O cuidado dos nossos tutores com os seus animais vê-se refletido no elevado número de animais geriátricos e no avanço de uma área também muito importante e emergente: a medicina de cuidados paliativos.

No entanto, falta no nosso País uma oferta ainda mais abrangente de seguros para os animais de companhia, que ajude os tutores a suportar as despesas com os seus animais, ou, se me permite, com os seus patudos, que são verdadeiros membros da sua família.

Outro aspeto que tem sido uma luta ativa da APMVEAC e da Ordem dos Médicos Veterinários (OMV), é uma tentativa junto do governo, desde há vários anos, da redução do valor do IVA dos cuidados médico-veterinários, que se situa nuns escandalosos 23%, para 6%, um valor mais racional e próximo ao que se pratica com cuidados de saúde humana, os quais estão isentos de IVA.

Como tem evoluído a incidência de doenças oncológicas em animais de companhia no País? E de que forma a integração de novas tecnologias está a transformar os tratamentos oncológicos veterinários?

Tem havido um aumento da incidência de problemas oncológicos, mas isso pode não querer dizer necessariamente que os animais têm agora mais tumores do que no passado.

Temos agora uma maior sensibilização do tutor e meios de diagnósticos, como imagiologia avançada, que estão cada vez mais disponíveis e acessíveis.

Temos profissionais médico-veterinários com formação adequada na área e temos ainda uma população de animais de companhia que vive cada vez mais anos, fruto dos cuidados médico-veterinários prestados. Tudo isso faz com que se diagnostiquem mais casos.

As novas tecnologias de diagnostico, nomeadamente a Tomografia Axial Computorizada (TAC) e a Ressonância Magnética (RM) permitem não só diagnósticos precoces, como também um estadiamento clínico muito mais preciso, o que nos possibilita ajustar os protocolos de tratamento a efetuar.

Da nossa pesquisa, encontrámos apenas uma médica veterinária especializada em oncologia veterinária. Existe apenas uma especialista em Portugal? Qual o motivo para existirem poucos profissionais especializados nesta área?

Atualmente temos efetivamente uma colega diplomada pelo Colégio Europeu de Oncologia, a colega Ana Rita Serras, o que muito nos alegra. No entanto, Portugal tem felizmente vários outros colegas com elevado conhecimento nesta área e que trabalham ao nível dos melhores da Europa.

A sua pergunta é bastante interessante e eu levaria muito tempo a responder. No início da formação de todos os colégios de especialidade, deu-se a atribuição de Diplomado de facto, a colegas com curriculum e experiência demonstrada na área. Ainda hoje isso ocorre cada vez que um novo Colégio é formado.

Quando foi formado o Colégio de Medicina Interna (ECVIM_CA), com a especialidade da Oncologia, lamentavelmente nenhum português foi contemplado, isto porque foi um colégio que se formou antes do ano 2000 (há mais de 25 anos), precisamente quando a Oncologia Veterinária estava a começar a evoluir no nosso País.

Mas isso não significa, de todo, que não tenhamos colegas com vasto conhecimento na área, vários deles com doutoramento na área de Oncologia, e que são excelentes clínicos e investigadores. Ao longo dos anos, principalmente na última década, os colegas que se dedicam à área, não optaram ou não tiveram a oportunidade de fazerem residências neste setor. Outras áreas como a medicina Interna, oftalmologia, cardiologia, reprodução, entre várias outras, contam já com colegas, que para além dos membros fundadores do Colégio, ou seja, diplomados de facto, fizeram residência e obtiveram o diploma do colégio europeu da especialidade respetiva.

Acredito que nos próximos anos iremos ter muitos mais diplomados europeus na área da oncologia e espero poder ver a OMV a atribuir também o título de Especialista ou equivalente aqui em Portugal, tal como acontece noutros países da europa, como na Alemanha, Espanha e França, por exemplo.

Como vê o futuro da oncologia veterinária em Portugal?

Vejo o futuro da oncologia em Portugal com muito otimismo. Acredito que o GIEONC da APMVEAC continuará a ser um sucesso e que iremos ter oportunidade de realizar diversas iniciativas.

 

 

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