O Grupo de Interesse Especial em Diagnóstico por Imagem – GIEDI, da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC), em parceria com a Associação de Veterinários Espanhóis Especialistas em Pequenos Animais (AVEPA), organizam o I Congresso Ibérico de Diagnóstico por Imagem, que acontecerá nos dias 21 e 22 de março em Toledo, Espanha. Em entrevista, Ana Filipe, presidente do GIEDI, partilha os objetivos e a importância deste evento pioneiro na Península Ibérica.
Como surgiu a ideia de criar um congresso ibérico de diagnóstico por imagem?
A ideia surgiu da nossa parte. Estive num congresso de imagem organizado pela Associação de Veterinários Espanhóis Especialistas em Pequenos Animais (AVEPA), em Espanha, e, numa conversa com o colega Daniel Vaz, percebemos que fazia todo o sentido unir os dois países e criar um evento de maior dimensão. Este projeto representa um marco importante, considerando que já tínhamos uma colaboração de vários anos com a AVEPA e a ambição de realizar formações em conjunto. A proximidade entre os dois grupos facilitou o processo e permitiu que avançássemos mais rapidamente. O grupo deles é bastante estruturado e nós estamos a crescer aos poucos. Partilhar este tipo de sinergias não só fortalece o nosso grupo de imagem, como também promove a cooperação entre as associações ibéricas numa área emergente e cada vez mais relevante: o diagnóstico por imagem.
  “A segunda edição do Congresso será em Lisboa, nos dias 6 e 7 de março de 2026. O objetivo é tornar este evento uma referência anual para a comunidade veterinária ibérica, especialmente no diagnóstico por imagem.”
Pretendem que o evento ocorra com que frequência?
Estamos numa fase experimental para perceber como funciona, mas a ideia é que o congresso se realize anualmente. Para o próximo ano, já temos data marcada: a segunda edição do Congresso será em Lisboa, nos dias 6 e 7 de março de 2026. O objetivo é tornar este evento uma referência anual para a comunidade veterinária ibérica, especialmente no diagnóstico por imagem. Queremos que os avanços técnicos nesta área cheguem a cada vez mais profissionais e contribuam para o crescimento e aperfeiçoamento das suas práticas.
Referiu que pretendem trabalhar muito na questão da formação ibérica… Considera que existe um déficit de formação no diagnóstico por imagem em Portugal e a nível ibérico?
Na verdade, não considero que exista um déficit de formação. Nos últimos anos, Portugal tem acompanhado significativamente as inovações tecnológicas em imagem, comparando-se aos padrões de outros países. Embora, por vezes, as novidades demorem um pouco mais a chegar devido à nossa localização geográfica, o esforço constante da nossa parte tem garantido acesso a formação de qualidade. A APMVEAC, por exemplo, tem feito um trabalho importante nesse sentido, promovendo formações certificadas. Atualmente, é possível aprender com qualidade tanto cá como fora. Temos muitos bons oradores portugueses e espanhóis e a facilidade de viagens torna possível a troca constante de conhecimento. Não noto diferenças significativas nos níveis de formação em comparação com países como Inglaterra.
O programa do Congresso inclui temas como a radiologia e a ecografia intervencionista. Este tema tem-se tornado cada vez mais relevante pela crescente procura?
O objetivo é tratar cada vez mais situações de forma minimamente invasiva. Este é o futuro. Tanto para quem trabalha em ambulatório como para quem tem centros especializados ou clínica geral, há hoje a possibilidade de realizar procedimentos que, há alguns anos, seriam impensáveis. Além disso, os meios utilizados são mais acessíveis e os animais recuperam mais rapidamente, muitas vezes necessitando apenas de uma leve sedação. Procedimentos como a extração de corpos estranhos, muito comuns em Portugal e Espanha devido à presença de praganas, podem ser resolvidos com técnicas ecoguiadas de forma rápida e eficiente.
A nossa intenção é que todos os profissionais saibam que estas técnicas existem e que, sempre que possível, se opte por soluções menos invasivas, acessíveis e eficazes.
Considera que ainda existe algum desconhecimento por parte dos médicos veterinários sobre estas abordagens?
A extração de corpos estranhos e as punções ecoguiadas já são práticas bem estabelecidas em ambulatório. Contudo, muitos colegas de medicina geral ainda têm receios sobre a execução destes procedimentos. O objetivo não é tanto combater o desconhecimento, mas sim clarificar quando e como fazer, bem como os recursos necessários. Felizmente, nos últimos dez anos, houve um crescimento exponencial na formação em Portugal. Hoje, quem quer aprender, consegue facilmente.
Considera importante esta troca de experiências na formação?
Sim, é essencial. Quem não quer evoluir, acaba por estagnar. Com o desenvolvimento tecnológico constante na área da saúde, as técnicas de diagnóstico avançam rapidamente. A troca de conhecimento e experiências é fundamental, especialmente para quem não trabalha exclusivamente nesta área e precisa de se atualizar com frequência. Atualmente, com acesso facilitado a formações e artigos científicos, é possível evoluir rapidamente e com qualidade.
Portugal tem sido reconhecido internacionalmente pela evolução do cuidado animal. Foi, inclusivamente, o País convidado da Iberzoo Propet 2025. Sente que há cada vez mais valorização internacional de Portugal nesta área?
Sim, sem dúvida! Além do clima agradável e da acessibilidade comparativa com outros países europeus, cada vez mais colegas publicam trabalhos relevantes em Portugal e participam em eventos internacionais. Temos orgulho em perceber que o nosso trabalho está ao mesmo nível que o dos melhores centros europeus. É gratificante receber casos de outros países, como Inglaterra, Canadá e Estados Unidos, que procuram a nossa medicina veterinária pela qualidade do serviço e pelo custo-benefício. Isso prova que estamos a evoluir e a oferecer cuidados de excelência.
Como apaixonada pela medicina veterinária, acredito que parar é morrer. É necessário evoluir constantemente e o diagnóstico por imagem tem sido fundamental para melhorar o tratamento dos nossos animais. É esse o nosso foco: diagnosticar melhor para tratar melhor.