No dia 20 de março celebrou-se, pela primeira vez, o Dia Mundial da Consciencialização sobre os parasitas, uma oportunidade ótima para refletir sobre a prevalência de parasitas que afetam os animais de companhia e o ser humano que tem aumentado significativamente em Portugal nos últimos anos, impulsionada por fatores como as alterações climáticas.
Esta data, que se celebra pela primeira vez este ano, marca o dia do início da primavera no hemisfério norte que tem associada consigo o aparecimento de parasitas, pelo menos é essa a perceção social para muitas pessoas e tutores de animais que costumam proteger os animais apenas nesta altura do ano. Aliás é uma ocasião ideal para lembrar a importância da desparasitação dos nossos animais, para promover a saúde e o bem-estar animal, assim como a Saúde Pública.

Inês Barbosa, Scientific Affairs Manager na Unidade de Negócios de Animais de Companhia da MSD Animal Health Portugal | Direitos reservados
Ainda que hoje se celebre este dia, é importante ter em conta que as condições climáticas em Portugal têm favorecido a proliferação de carraças, insetos (como por exemplo, as pulgas e os flebótomos) e mosquitos ao longo de todo o ano. No caso particular das carraças, existem em Portugal diversas espécies deste parasita, alguns exemplos de carraças são a Rhipicephalus sanguineus, que é uma carraça mais ativa nas alturas mais quentes do ano, e a Ixodes ricinus, que tem o seu pico de atividade nas alturas mais frias do ano. Estas carraças podem ser responsáveis pela transmissão de doenças ao ser humano e aos animais, como seja a doença de Lyme ou a babesiose.
As pulgas, os pequenos parasitas que se alimentam do sangue dos animais e, ocasionalmente, dos seres humanos, têm um impacto significativo no bem-estar dos animais e, consequentemente das pessoas. Embora possam parecer um problema menor, uma infestação por pulgas pode instalar-se na nossa casa em qualquer altura do ano e dar origem a uma série de complicações de saúde, como alergias, anemia e até doenças transmitidas por estes vetores, como a dipilidiose, uma doença provocada pelo parasita interno Dypilidium caninum.
Existem outras doenças parasitárias que podem ser transmitidas aos animais e ao Homem, através de outros vetores, como seja a Dirofilariose e a Leishmaniose. A Dirofilariose é uma doença provocada pelo parasita do coração que é transmitido através da picada de determinados mosquitos. Os últimos estudos realizados no nosso País indicam, pela primeira vez, a presença deste parasita do coração em cães de todos os distritos de Portugal, com exceção dos Açores. Em relação à Leishmaniose, que é transmitida através da picada de um inseto, o flebótomo, os últimos estudos indicam que em 10 anos a seroprevalência desta doença no cão quase duplicou. É importante referir que, nos seres humanos, a Leishmaniose visceral é uma doença de declaração obrigatória dada a sua importância do ponto de vista da Saúde Pública.
Hoje, perante o primeiro Dia Mundial da Consciencialização sobre os parasitas, é mais importante do que nunca lembrar o impacto que os parasitas têm na saúde dos animais e na Saúde Pública. A crença de que os parasitas apenas estão ativos na primavera e verão, ou que os animais que não saem de casa estão seguros, pode dar origem a períodos prolongados sem proteção, expondo os animais e as suas famílias a possíveis infestações. Investir na desparasitação pode, de facto, ser um passo vital na luta contra as doenças transmitidas por estes parasitas e por isso é crucial falar com o seu médico veterinário para conhecer os riscos a que o seu animal pode estar exposto e qual a melhor forma de o proteger.
Fontes utilizadas:
- http://hdl.handle.net/10400.18/9172
- https://doi.org/10.3390/ani14091300
- https://doi.org/10.3390/microorganisms10112262
*Scientific Affairs Manager na Unidade de Negócios de Animais de Companhia da MSD Animal Health Portugal