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Serviços de ambulatório: Compromisso, disponibilidade e versatilidade

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Tem crescido a oferta de serviços veterinários em ambulatório de várias especialidades, o que permite dar resposta a serviços que alguns CAMV não tenham internamente, mas também melhorar a resposta aos clientes, colegas e tutores. A rapidez e disponibilidade são fatores que fazem a diferença.

Em junho de 2022, publicámos um artigo na VETERINÁRIA ATUAL sobre serviços de ambulatório, ao qual demos o título “parcerias de sucesso”. Mais de dois anos depois, constatamos que estes serviços têm cada vez mais procura, vieram para ficar e auxiliam clientes, colegas, animais e tutores. E existem vários de diversas especialidades. A VetOcular, por exemplo, foi fundada em 2019 com a missão de tornar a oftalmologia veterinária acessível a todos os profissionais e tutores. Desde o início do projeto, no contexto desafiante da pandemia, “quisemos apostar em apoiar, de forma remota, colegas médico-veterinários com interesse nesta área”. A fundadora e diretora clínica é Ana Monteiro que afirma que “desde então, as redes sociais da VetOcular [Instagram e Facebook] têm partilhado conteúdo útil e educativo, com o objetivo de informar todos os profissionais e estudantes que acompanham o projeto e/ou necessitam dos serviços prestados”, explica a também coordenadora do Serviço de Oftalmologia da VetOeiras Hospital Veterinário IVC Evidensia Portugal, membro da ESVO (em português, a sigla traduz-se para Sociedade Europeia de Oftalmologia Veterinária), SEOVET (Sociedade Espanhola de Oftalmologia Veterinária) e do GIEO (Grupo de Interesse Especial em Oftalmologia) da APMVEAC.

 

Foi pioneira no País, garante a fundadora, ao oferecer de forma gratuita, conteúdo didático e informativo nas redes sociais, “com o objetivo de disseminar o conhecimento e desta forma tornar a oftalmologia veterinária um pouco mais acessível a todos”. A VetOcular oferece uma gama completa de serviços em oftalmologia veterinária, abrangendo as várias fases da saúde do animal, desde a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de patologias oculares em animais. “Realizamos consultas, tratamentos de diversas doenças oculares, exames especializados (por exemplo: citologias de córnea, ecografia ocular, gonioscopia e eletrorretinografia) e cirurgias mais simples”, refere a diretora clínica.

Os serviços de ambulatório são uma forma “de evitar o investimento em formação das equipas internas ou a contratação de colegas especializados, cuja oferta é reduzida e, muitas vezes, difícil de manter”, explica Natalina Silva, fundadora da ECardio

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Para casos mais complexos, como cirurgias que exigem equipamentos específicos, que não são transportáveis (como o microscópio cirúrgico), a VetOcular conta com a parceria do Hospital Veterinário VetOeiras, onde através de uma “equipa muito experiente na área de anestesia, tal como em outras áreas, se necessário, é possível efetuar os procedimentos com total segurança. “Por exemplo: tratamentos a laser para glaucoma, cirurgia de córnea, cirurgia de cataratas, entre outras, que não são possíveis em ambulatório”. O objetivo é “proporcionar cuidados de alta qualidade, sempre adaptados às necessidades individuais de cada paciente”, garante Ana Monteiro.

Neste momento, além da fundadora, a médica veterinária Beatriz Silva, oftalmologista veterinária, também trabalha neste serviço de ambulatório. Os clientes são médicos veterinários, que trabalham em consultórios, clínicas ou hospitais veterinários e que necessitam de apoio especializado em oftalmologia veterinária. Atualmente a VetOcular atua apenas na zona da Grande Lisboa.

 

A Ecardio surgiu quando Natalina Silva, médica veterinária e fundadora, percebeu que existia uma crescente procura por este tipo de serviço nas clínicas, enquanto a oferta disponível era insuficiente e muito segmentada. “Foi daí que nasceu a hipótese de formar uma equipa para conseguirmos dar uma resposta rápida aos colegas e cobrir uma maior extensão do território nacional, com o auxílio da tecnologia para facilitar o agendamento.”

Os serviços disponíveis são a ecografia abdominal, torácica e cervical, consultas de cardiologia, ecocardiografia e Holter. A equipa conta com cinco médicos veterinários, todos com ampla experiência na área.

 

Apesar de trabalhar maioritariamente na zona da Grande Lisboa, a Ecardio também se desloca para a zona Centro e Sul. “Os nossos principais clientes incluem tanto colegas de clínicas veterinárias mais pequenas, que pretendem aumentar a qualidade dos serviços prestados e garantir aos tutores um maior poder de diagnóstico, como também gerentes de grupos de clínicas que procuram uma parceria para suprir a necessidade destes serviços nas suas várias clínicas”, refere a diretora clínica. E, acrescenta, que esta é uma forma “de evitar o investimento em formação das equipas internas ou a contratação de colegas especializados, cuja oferta é reduzida e, muitas vezes, difícil de manter”.

Carolina Ferraz, médica veterinária e fisiatra animal, conta à VETERINÁRIA ATUAL, que trabalha sozinha e é ela quem se organiza “para conseguir a chegar a todo o lado”. Quando começou a sua carreira, os veterinários e responsáveis de entidades empregadoras na medicina veterinária, com quem falou, não tinham volume suficiente de pacientes que justificasse empregar um fisiatra a tempo inteiro. No entanto, diz, “tinham necessidade de recorrer a essa especialidade com alguma frequência, fosse por pós-operatórios, doenças osteoarticulares, neurológicas ou outras”. Nesse sentido, Carolina começou a pensar em começar a fazer o seu próprio investimento e a prestar serviços ambulatórios aos diferentes CAMV. A médica veterinária presta consultas de fisioterapia e reabilitação e, dentro da especialidade, recorre a equipamentos, como o laser, a eletroterapia, o ultrassom e a termografia, em clínicas veterinárias situadas na região da área Metropolitana da Grande Lisboa.

“Embora ainda seja cedo para revelar todos os detalhes, podemos adiantar que 2025 será um ano com atualizações tecnológicas e possíveis ampliações de serviços que estão em desenvolvimento” – Ana Monteiro, VetOcular

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Um desafio aliado a uma enorme responsabilidade

Depois de terminar a licenciatura em Medicina Veterinária no Porto, e de ter de imediato uma oportunidade para trabalhar na capital, Tiago Lima passou por uns anos de aquisição de experiência. “Foi algo muito fugaz. Quase por brincadeira, entreguei uns CV e, na semana seguinte, estava a trabalhar no Hospital Veterinário de São Bento.” Decorria o ano de 2011 e, como qualquer recém-licenciado, chegou com vontade de vencer. “E isso traduz-se em trabalhar muito, fazer noites, fazer emergências, mas, ao fim de seis meses, foi fácil perceber que afinal era muito desgastante e que não era bem aquilo que queria.” Começou a trabalhar numa clínica onde surgiam vários casos de pele, mas, à época “a dermatologia não estava tão desenvolvida como outras especialidades”.

Com o decorrer do tempo foi fazendo algumas formações e a interessar-se pela área de dermatologia, área na qual exerceu na CasVet e na Alma Veterinária. Entretanto, entra na Universidade Lusófona (UL), onde hoje é responsável pelas cadeiras de dermatologia – aulas teóricas e práticas – juntamente com a colega Diana Ferreira, e faz a consulta da especialidade no Hospital Escolar desta universidade. Atualmente, exerce maioritariamente em Lisboa, e trabalha duas vezes por semana na UL. Desengane-se quem pense que fazer consultas de referência e de especialidade é fácil. Tiago Lima assume o desafio da responsabilidade e considera que é “preciso coragem” para tomar essa decisão. “Senti alguma insegurança, porque quando fazemos serviço de especialidade temos de saber o que estamos a fazer. Naquele momento, tanto o cliente, como o tutor, quando chegam até nós, têm uma expectativa muito alta.”

Depois de um período a trabalhar de segunda a sábado e a fazer 20 consultas por dia, acabou por voltar ao Porto, há um ano e um mês, e a estar mais presente em casa, e com maior qualidade de vida. “Experimentei fazer este trabalho por referenciação e tinha blocos contratados em alguns sítios. Isto foi o que fiz enquanto estive a viver em Lisboa. Mas, em simultâneo, tenho de produzir, escrever e estou a fazer um doutoramento, o que é algo que dá muito trabalho.” Desde o início de 2025, começou a colaborar no novo Hospital Veterinário de Guimarães, que abriu recentemente, “tanto na formação, como nas consultas de referência”. Quando vai a Lisboa, sempre que existe oportunidade, também faz consultas de ambulatório.

Carolina Ferraz, médica veterinária dedicada à fisiatria, considera que “é quase impossível para um CAMV ter profissionais de todas as especialidades, a tempo inteiro, no entanto, não deixa de precisar delas para tratar dos animais que lhes entram pela porta, todos os dias”.

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Que vantagens?

Tiago Lima gosta de aproveitar as deslocações para ajudar a formar os colegas generalistas. “Os médicos veterinários de referência têm também este papel didático e acho que nos compete ensinar os colegas.  Há trabalho para toda a gente. Ajudar as pessoas a trabalhar um pouco melhor é bom para todos.” Os colegas de medicina veterinária geral têm então uma enorme importância. “Há procedimentos que os colegas de especialidade não fazem, mas vão colmatar algumas lacunas que possam existir em algumas clínicas.” O ambulatório implica muita disponibilidade, afirma. “Quando recebo telefonemas ao fim de semana, por exemplo, não consigo não atender porque neste regime de serviço de ambulatório, desenvolvemos um compromisso com o paciente e com o cliente. Eu tenho três cães e dois gatos e o que eu quero para os meus animais é aquilo que eu considero que os meus clientes devem ter”, destaca.

Mas, afinal, como é que todos estes médicos veterinários avaliam as vantagens dos serviços ambulatórios? Ana Monteiro considera que estes serviços “permitem que a clínica veterinária tenha acesso a cuidados oftalmológicos especializados sem a necessidade de os tutores se deslocarem do seu local de atendimento habitual”. No caso da VetOcular, sendo a oftalmologia veterinária uma especialidade médico-cirúrgica, se o paciente necessitar de cirurgias ou tratamentos mais complexos é sempre necessário dirigir-se ao hospital onde se realizam esse tipo de intervenções, devido à necessidade de se usarem aparelhos que não são transportáveis. “Em muitos casos, este processo é gerido em colaboração com o médico veterinário assistente do animal”, destaca a médica veterinária.

Natalina Silva salienta a comodidade para o tutor, “que não precisa de deslocar-se a outro estabelecimento para obter atendimento especializado, mantendo o conforto de estar no ambiente da clínica habitual”. Para a clínica, os serviços de ambulatório “ampliam o leque de serviços, permitindo uma maior capacidade de diagnóstico e compliance por parte dos tutores, sem que seja necessário assumir os custos elevados e, muitas vezes, difíceis de manter com uma contratação especializada”.

Carolina Ferraz considera que “é quase impossível para um CAMV ter profissionais de todas as especialidades, a tempo inteiro, no entanto, não deixa de precisar delas para tratar dos animais que lhes entram pela porta, todos os dias”. A medicina veterinária em ambulatório permite que “os CAMV possam, à medida das suas necessidades, agendar consultas com um especialista, no seu espaço, e participarem nesse mesmo plano, prestando assim um serviço mais completo, ao seu paciente. Torna também mais cómodo para os clientes e pacientes, poderem tratar o seu animal no mesmo espaço, sem terem de andar a fazer exames e tratamentos em vários CAMV”.

Muitos dos pacientes que Tiago Lima vê têm doença alérgica, uma doença crónica e com recorrências. “Quando começamos a trabalhar num sítio, ao fim de um ano a nossa carteira está gigante e o tempo de espera aumenta porque os animais já não têm queixas e sintomas com a mesma frequência, mas continuam a vir, e começa a ser mais difícil introduzir animais novos”, explica o médico veterinário, indicando que esta é uma das dificuldades na área de dermatologia. “Temos animais diagnosticados com um ano e que vão durar mais 14, por exemplo. A palavra ‘alta’ em dermatologia nos casos crónicos não existe. O que temos são animais controlados.”

O médico veterinário volta a referir a parceria com outros colegas, baseada na formação. “Quem faz referência também quer ser chamado para trabalhar em casos mais desafiantes e mesmo os colegas têm uma rentabilidade maior se forem eles a tratar alguns casos menos complexos, a verdade é essa”, defende. Também Ana Monteiro se debruça sobre a questão formativa. “Neste momento, o principal desafio na gestão de um serviço ambulatório na área de oftalmologia veterinária está, sobretudo, na disponibilidade de oftalmologistas que possuam a formação adequada, aliada à experiência prática necessária para lidar com a complexidade da especialidade.”

Ao ser uma especialidade altamente técnica e detalhada, exige uma combinação de conhecimento teórico sólido e experiência prática, que pode levar anos a desenvolver. Isto conduz a que seja difícil encontrar profissionais com estes requisitos. Mas também, explica a médica veterinária, “que demonstrem a dedicação e o compromisso necessários para atuar nesta área, o que requer um processo seletivo cuidadoso e um constante investimento em formação especializada”. E, acrescenta: “O objetivo final é garantir que a qualidade que nos caracteriza seja sempre mantida, mesmo que isso signifique um tempo maior para integrar e ajudar a formar um novo oftalmologista à nossa equipa”.

“Senti alguma insegurança [no começo], porque quando fazemos serviço de especialidade temos de saber o que estamos a fazer. Naquele momento, tanto o cliente, como o tutor, quando chegam até nós, têm uma expectativa muito alta” – Tiago Lima, dedicado ao serviço de ambulatório na área de dermatologia

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Como articular os serviços com os colegas

Na Ecardio, mais do que realizar exames, é fomentada a colaboração com os colegas para alcançar um diagnóstico preciso, correlacionando os resultados dos exames com o contexto clínico global. “Estamos a finalizar o desenvolvimento de uma aplicação que permitirá marcações diretas por parte dos CAMV, eliminando múltiplos contactos e os tempos de espera por resposta entre as clínicas, a nossa equipa e os tutores”, explica Natalina Silva. Este avanço “agilizará significativamente o processo de marcação e a rapidez na realização dos exames”. Por outro lado, a Ecardio conta com a SpecialVet, uma plataforma que liga vários profissionais e centros a especialidades veterinárias e já chega, neste momento, a mais de 30 centros médicos, mais de 105 veterinários especializados e a cinco distritos de Portugal.

Tiago Lima denota que existem poucos colegas a dedicarem-se a 100% à dermatologia. “Já começamos a ter alguns jovens a querer estagiar em dermatologia, por isso, acredito que dentro dos próximos dez anos vamos ter mais profissionais formados nesta área e a trabalhar.” A casuística tem aumentado nos últimos anos, sublinha, e o caminho passará por continuar a assistir a este crescimento. Por outro lado, “temos uma enorme quantidade de animais alérgicos”.

“Na VetOcular, articulamos os nossos serviços com outros CAMVs e profissionais através de email, telefone e redes sociais, garantindo um contacto eficiente para oferecer suporte especializado, esclarecer dúvidas, coordenar tratamentos e orientar o encaminhamento para casos que exigem intervenções mais complexas”, explica Ana Monteiro. Também Carolina Ferraz refere que “o trabalho e o plano são sempre feitos em equipa”. O caso é-lhe passado por um médico assistente, seja ele de medicina interna, ortopedia, cirurgia, neurologia ou outra especialidade. “Depois agendamos uma primeira consulta para avaliação e planificação das sessões seguintes. Esse plano é discutido com a equipa médica que segue o animal e assim aplicamos o plano integrado”, explica.

O novo ano já decorre ao ritmo suposto e existem objetivos para cumprir. Para 2025, Ana Monteiro explica que a equipa da VetOcular quer continuar a oferecer “qualidade e compromisso”. “Embora ainda seja cedo para revelar todos os detalhes, podemos adiantar que 2025 será um ano com atualizações tecnológicas e possíveis ampliações de serviços que estão em desenvolvimento”, adianta.

Carolina Ferraz afirma que está a trabalhar em vários desafios, mas que o maior deles é mesmo a gestão de tempo. “Por vezes é difícil chegar a horas a todo o lado ou porque há trânsito ou porque uma consulta demorou mais tempo do que o estimado, um cliente faltou e o seguinte atrasou-se…”, explica. Outra dificuldade que tem notado é a falha da compliance. “É necessário que os tutores respeitem as recomendações na íntegra para termos os resultados esperados porque muitos, quando veem o animal quase a 100%, acabam por não cumprir o plano”, lamenta.

*Artigo publicado na edição 189, de janeiro, da VETERINÁRIA ATUAL

 

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